ANVISA proíbe emagrecedores – matéria publicada no Jornal DCI

ANVISA proíbe emagrecedores – matéria publicada no Jornal DCI

Segundo determinação da Anvisa, houve suspensão da comercialização das medicações anorexigênicas: anfepramona, femproporex e mazindol. Apesar dos apelos da comunidade cientifica e da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o órgão optou pela medida.

Nenhuma medicação tem como intuito substituir um programa de reestruturação alimentar e atividade física regular, porém alguns pacientes (bem verdade que a minoria) possuem indicação e/ou benefício desta classe. Proibir o uso e principalmente, tirar uma ferramenta do tratamento é mais uma limitação no tratamento da obesidade.

A obesidade hoje é um problema de saúde publica mundial. No Brasil, os índices crescem em todas as faixas etárias e níveis sociais.

Segundo censo do IBGE, em 2008-09 o excesso de peso, atingiu cerca de metade dos homens e das mulheres, sendo obesos 12,5% dos homens (1/4 dos casos de excesso) e 16,9% das mulheres (1/3). Ambas as condições aumenta de frequência até a faixa de 45 a 54 anos, no caso dos homens; e de 55 a 64 anos, entre as mulheres, para depois declinarem.

O excesso de peso e a obesidade acometem duas a três vezes mais os homens de maior renda, além de se destacarem nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste e nos domicílios urbanos. Nas mulheres, as duas condições se destacaram no Sul do país e nas classes intermediárias de renda, conforme dados do IBGE.

Dentre as inúmeras razões para este cenário crescente destacam-se a mudança do estilo de vida englobando uma alimentação menos balanceada, com excesso de produtos industrializados e hipercalóricos, associada a uma inatividade física (não só a ausência de um exercício físico, mas também uma diminuição crescente de atividades físicas não programadas como subir escadas ou locomover-se a pé para padaria).

A taxa metabólica do organismo (gasto do corpo) se da pelo somatório da taxa metabólica basal (energia que gastamos para viver e que é muito dependente da quantidade de massa muscular), taxa de gasto com atividades físicas regulares (caminhar, pedalar, academia) e ainda taxa metabólica dos alimentos. O corpo gasta energia para digerir e absorver os nutrientes provenientes da alimentação. Sabe aquela máxima de que é preciso comer de 3 em 3 horas? Isto não só mantém o metabolismo mais alto, mas também ajuda a impedir que haja um pico num hormônio que dá muita fome, chamado grelina.

Dentre o arsenal terapêutico que os endocrinologistas dispõem hoje para auxilio no combate à obesidade estão as medicações que atuam predominantemente aumentando a saciedade (como a sibutramina), diminuindo apetite associado a um comportamento predominantemente ansioso como, por exemplo, a fluoxetina e a sertralina, diminuindo absorção como orlistate ou então aumentando gasto energético e também atuando no padrão alimentar como os derivados anfetamínicos, suspensos pela Anvisa.

Com isto, perdemos um importante sítio de atuação, principalmente para aqueles pacientes que apresentam quadro de restrição significativa e não conseguem aumentar a carga de atividade física, como aqueles com quadro de artrose importante de joelhos.

Para estes pacientes, depois de descartar a contra indicação para a classe (pressão arterial elevada, por exemplo), tínhamos indicação de dar a medicação por um tempo curto e diminuir um pouco a sobrecarga articular pelo peso. Assim que possível, este paciente conseguiria aumentar a carga de exercício e descontinuar a medicação.

Embora a Anvisa tenha optado por manter a sibutramina no mercado, seu uso sofrerá uma série de restrições. Tal cautela foi baseada num estudo europeu (SCOUT – Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial) que avaliou os efeitos da administração da medicação a pacientes de risco cardíaco (pacientes que já tinham tido algum tipo de alteração cardíaca), e constatou um aumento de 16% no risco de complicações cardiovasculares, embora a taxa de eventos tenha sido baixa e não houve qualquer aumento de mortalidade.

A grande crítica é que o estudo apenas confirmou os efeitos do uso da sibutramina a pacientes que já apresentam alguma contra indicação formal (pacientes que já enfartaram ou possuem determinados tipos de arritmia cardíaca). O uso criterioso da medicação a pacientes sem contra indicação não ocasiona aumento do risco relativo de eventos cardiovasculares, conforme vários ensaios clínicos desde o uso regular.

Qualquer remédio, se usado sem critério, pode causar problemas à saúde. Usar um dado já esperado pela comunidade científica, como uma eventual justificativa de suspensão num futuro, não parece uma conduta assertiva (fato foi criticado por vários estudiosos da comunidade científica europeia).

Com a suspensão dos anorexígenos, perdemos mais uma classe de medicações para o combate à obesidade. A pergunta que ecoa é: e agora?

Dra. Claudia Chang é graduada em medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora e doutoranda em endocrinologia e metabologia da USP. Possui título de especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, além de ser coordenadora e professora da Pós Graduação Endocrinologia do ISMD.

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Autor do conteúdo

Drª Claudia Chang

CRM SP - 110155

Graduação em Medicina UFJF/MG
Residência em Endocrinologia UNESP
Membro Sociedade Bras. Endocrinologia(SBEM)
Doutorado(PhD)pela USP
Membro da Endocrine Society
Profª. e coordenadora da Endocrinologia ISMD

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